Perspectivas da Automação Medicinal

É fato que a tecnologia na medicina está transformando os cuidados com a saúde e a forma como os médicos se relacionam com os pacientes. A automação dos procedimentos, fortalecida com a chegada da Internet das Coisas (IoT), o Big Data e a Inteligência Artificial (IA), interferem profundamente no modo como a medicina é aplicada. Essas transformações impactam desde o ensino da profissão, passando pela a atuação prática do médico até a prevenção e tratamento de doenças.

No Brasil, os médicos já percebem as facilidades trazidas pelos sistemas de informação para a gestão hospitalar ou de clínicas e consultórios. O levantamento feito pela Accenture mostra que 61% dos profissionais brasileiros usam ferramentas de TI para observação dos pacientes e para otimizar o tempo da consulta, enquanto 38% utilizam procedimentos eletrônicos para administração.

Segundo o presidente da Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde (ABIIS), existem mais de 500 mil tecnologias médicas diferentes em uso atualmente, de exames laboratoriais ao tratamento de vários tipos de câncer por meio da biologia molecular. O câncer de mama, ele explica, pode passar por até quatro estágios. O diagnóstico na fase um garante 95% de cura. Já no quarto estágio, o número se inverte: a taxa de mortalidade é de 95%. Daí o valor da tecnologia para a medicina. O ganho humanitário do uso das diversas tecnologias aplicadas à medicina é indiscutível, mas vivemos o risco de uma medicina cada vez melhor para cada vez menos pessoas. Este é o desafio que temos de enfrentar: uma melhor gestão para aumentar o acesso de grande parte da população à tecnologia que transforma, sobre a necessidade de popularizar o acesso aos tratamentos mais modernos.

A automação robótica também poderá auxiliar os pacientes, desde a chegada ao hospital, com orientações e condução à sala de consulta ou ao apartamento, em caso de internação, até procedimentos cirúrgicos. Alguns estudos revelam que a cirurgia robótica diminui em 20% o tempo de hospitalização do paciente em relação à cirurgia convencional.

Embora muitos acreditem que automação é uma ameaça ao mercado de trabalho, o que percebemos é que máquina e homem trabalharão cada vez mais unidos para facilitar o dia a dia das profissões. Na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, alguns pesquisadores criaram um programa com inteligência artificial para identificar quais lesões cutâneas precisam de uma atenção maior do médico. Com uma foto, o software consegue detectar se uma mancha ou pinta deve ou não ser investigada.

Mesmo que pareça um procedimento simples, os cientistas criaram inicialmente um banco de dados com mais de 130 mil imagens de doenças de pele. Só depois um algoritmo foi treinado para auxiliar no diagnóstico.

Todos esses exemplos reiteram que a automação robótica e a Inteligência Artificial terão um papel fundamental na relação médico-paciente. O objetivo não é substituir o diagnóstico, mas agregar informações que possam contribuir com a equipe médica.

A Cirurgia Robótica disponível para o tratamento de diversas patologias, pode beneficiar pacientes na diminuição da dor e do desconforto no pós-operatório, na diminuição de perdas sanguíneas durante o procedimento, no menor tempo de permanência no hospital e ainda oferece a oportunidade de retorno mais rápido às suas atividades diárias.

Robô realizando cirurgia urológica

A tecnologia une o comando robótico à laparoscopia, um procedimento minimamente invasivo. São feitas incisões de oito milímetros para introduzir os “braços” do Robô Da Vinci (Vinci Surgical System) e para levar uma microcâmera e instrumentos como bisturi, tesoura, afastador e pinça (que varia de tamanho) ao local da cirurgia. O instrumento é introduzido por meio de um tubo, chamado “trocar”.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), Maurício Simões Abrão, nas cirurgias para endometriose, com o uso do robô a tendência é fazer apenas uma incisão (de cerca de 20 milímetros) para introdução dos instrumentos. “Com isso, se consegue a articulação de várias pinças com apenas um corte”, explica.

Procedimentos feitos por meio de orifícios naturais do corpo – chamado de notes –, também são possíveis com o Da Vinci, e são ainda menos invasivos que a laparoscopia. “Uma cirurgia de retirada de vesícula pela vagina, por exemplo, não causa dor pós-operatória e deixa o paciente pronto para fazer atividades físicas em poucos dias”, diz o cirurgião e professor adjunto da Universidade de Strasburgo (França), Ricardo Zorron.

Robô cirurgião Da Vinci

Embora sejam caros, os robôs cortam outros gastos: com pacientes se recuperando mais rápido, diminui a ocupação de leitos dos hospitais e o paciente corre menos risco de sofrer infecções, avalia o médico brasileiro Chao Lung Wen, coordenador do Núcleo de Telemedicina e Telessaúde do Hospital das Clínicas da USP e membro do Comitê Executivo de Telemedicina e Telessaúde do Ministério da Saúde. “E, sempre que uma tecnologia torna o trabalho mais confortável e barato, ela tem tudo para ficar”, diz Chao.

Enquanto isso, robôs ganham os corredores de hospitais. Eles já são usados para carregar roupas e equipamentos nos países desenvolvidos, mas começa a surgir agora uma nova geração, que interage com os pacientes. Eles serão úteis não só nos hospitais como também nas casas, para cuidar de pessoas idosas e doentes. O governo japonês iniciou em 2009 um megaprojeto de pesquisa nessa área.

As DESVANTAGENS da cirurgia realizada com tecnologia robótica, além do alto custo, não oferece a sensação tátil para o cirurgião. “Você não consegue pegar o tecido e saber o que ocorre. Por outro lado, tem a visão ampliada e melhorada, que compensa esta perda”, diz o gerente médico do Centro Cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês e cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital das Clínicas de São Paulo, Sérgio Samir Arap. Ele ressalta que a indicação de uma cirurgia com o Da Vinci deve ser bem analisada pelo médico e o paciente. “Em casos de tumores de fácil acesso, não traz nenhuma vantagem. Em tumores que atingem os ossos, o robô também não tem força suficiente para cortá-los, e ele vai mais atrapalhar do que ajudar. A avaliação deve ser cautelosa.” Para várias especialidades médicas, não estudar robótica vai significar não fazer cirurgia. “Até porque o bom cirurgião não será mais avaliado pela sua capacidade de fazer cortes precisos, já que nem o mais exímio deles poderá fazer incisões mais hábeis do que qualquer máquina, mas, sim, pela sua capacidade de diagnosticar mais rapidamente o problema do paciente e coordenar bem o processo cirúrgico”, diz Alex Nason, do Johns Hopkins Hospital, nos EUA.


REFERÊNCIAS

CAMPANA, Gustavo Aguiar; OPLUSTIL, Carmen Paz. Conceitos de automação na medicina laboratorial: revisão de literatura. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 47, n. 2, p. 119-127, 2011.

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FIGUEROA, Rafael. Tecnologia na medicina e sua influência nas especialidades médicas. 2018. Disponível em: https://portaltelemedicina.com.br/blog/tecnologia-na-medicina-e-sua-influencia-nas-especialidades-medicas. Acesso em: 18 nov. 2019.

STEFANINI, Marco. Medicina do futuro: Inteligência Artificial para auxiliar em diagnósticos e aprimorar a relação médico-paciente. 2018. Disponível em: https://forumsaudedigital.com.br/medicina-do-futuro-inteligencia-artificial-para-auxiliar-em-diagnosticos-e-aprimorar-relacao-medico-paciente/. Acesso em: 18 nov. 2019.

LAPASTINI, Danilo. Robótica a Serviço da Medicina. 2015. Disponível em: http://manufatura-inteligente.com.br/hoje-vamos-falar-da-automacao-na-medicina/. Acesso em: 18 nov. 2019.